(Eduardo Janot Pacheco / José Monserrat Filho - JC) O Brasil já é parceiro direto da ciência do primeiro mundo. Para tanto, bastou ter assinado o acordo que, se ratificado, o tornará membro pleno da Organização Europeia para Pesquisa Astronômica no Hemisfério Sul (ESO, na sigla em inglês).
O caso é real. Em 29 de dezembro de 2010, o à época ministro da Ciência e Tecnologia (MCT), Sérgio Rezende, firmou, em nome do presidente Lula, o acordo de ingresso na ESO. Desde então, nossa comunidade de astrônomos - cerca de 700 pesquisadores - e de físicos cosmólogos vem participando ativamente, em igualdade de condições com os colegas europeus, dessa que é reconhecida, até pelos próprios americanos, como a mais moderna entidade de pesquisas astrofísicas do mundo.
Após exaustivos debates ao longo de 2010 e ciente de sua responsabilidade histórica, a maioria esmagadora de nossos astrônomos apoiou a entrada do Brasil na ESO. A pequena minoria contrária, enredada numa visão imediatista, em projetos meramente pessoais e/ou com estreitos interesses vinculados a soluções americanas, não consegue se pôr à altura do grande salto qualitativo que estamos dando hoje.
A atuação séria e competente dos pesquisadores brasileiros se projetou logo de saída: já na primeira rodada de pedidos de tempo de observação, de que participamos agora em abril, nossa taxa de aprovação (número de noites de observação) foi maior que a média dos europeus.
Ratificado o acordo Brasil-ESO pelo Congresso Nacional ainda em 2011, nosso país será automaticamente coproprietário das moderníssimas instalações e bancos de dados da ESO no Chile e na Europa (avaliados em vários bilhões de euros) e passará a ter assento, voz e voto em todos os órgãos de avaliação e decisão da organização.
Simultaneamente, nossas indústrias de média e alta tecnologia poderão participar de obras únicas e pujantes, como a construção, no Chile, dos dois maiores telescópios de todos os tempos: o ELT (Extremely Large Telescope, ótico) e o ALMA (Atacama Large Millimeter Array, rádio-interferômetro gigante, já em construção). Ambos estão avaliados em mais de um bilhão de Euros. Nossas indústrias também terão total acesso ao desenvolvimento de instrumentação de ponta, regularmente promovido pela ESO.
Esse assenso qualitativo da nossa C&T em ciências exatas é fruto da notável mudança de mentalidade diante do imenso potencial brasileiro, do avanço das pesquisas científicas e da educação ocorrida no país na presente década: o orçamento do MCT multiplicou-se por seis e foi atualizado o salário dos pesquisadores das universidades públicas, que, por sua vez, tiveram condições de, a cada ano, abrir novos concursos.
A entrada do Brasil na ESO é movimento transformador. Investiremos R$ 550 milhões em dez anos e subiremos a um patamar bem mais elevado de progresso científico e tecnológico. Essa quantia - que nos permite adquirir um patrimônio material e de oportunidades sem precedentes - representa menos de 1% do orçamento atual do MCT e cerca de 1/6 do valor diário da dívida interna brasileira. Cabe frisar que até 75% das contribuições que cada país membro faz têm retornado a ele por meio dos contratos obtidos por suas indústrias junto à ESO. Trata-se uma virada histórica.
O Brasil pode, deve e precisa internacionalizar sua C&T, enfrentando novos desafios, galgando novas posições no mundo e sabendo proteger seus interesses soberanos. Vivemos uma grande chance com os benefícios sem comparação da ESO.
Gozamos de estabilidade e prosperidade financeiras, que os recursos do pré-sal reforçarão ainda mais. Os países desenvolvidos nos respeitam e fazem de tudo para serem nossos parceiros nesta etapa de mudanças e avanços.
Os governos Lula e Dilma entenderam isso e se engajaram na construção de um país mais sábio, mais produtivo e sem miséria, com base na sociedade e na economia do conhecimento - a fronteira do mundo contemporâneo. O Brasil na ESO marca a responsabilidade, a determinação e a coragem de um novíssimo tempo.
Eduardo Janot Pacheco é presidente da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e José Monserrat Filho é chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira (AEB).
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