terça-feira, 23 de agosto de 2011

De volta ao observatório



(Cassio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) Calma galera, eu não fui abduzido, pelo menos não por alienígenas! Mais uma vez a correria me afastou do blog, mas vou tentar voltar à rotina.

No final de semana passada eu estive no Rádio Observatório de Itapetinga (ROI) localizado nos arredores da cidade de Atibaia (SP) para observar estrelas ainda em fase de formação.

As observações são parte de um projeto maior de estudo dessas estrelas, que tem a participação de mais quatro pessoas em quatro instituições diferentes, uma delas nos EUA. Hoje em dia é muito difícil levar um projeto de pesquisa sem uma rede de colaboradores, já que a quantidade de dados demanda um investimento de tempo (e energia) muito grande.

A ideia aqui é observar emissão rádio da molécula de água em 22 GHz conhecida como “maser”. Em termos bem simples, o maser é um tipo de emissão parecida com o laser, mas ao invés de luz (o “l” da sigla laser) a emissão é em microondas (o “m” da sigla maser). Encontrar masers de água em estrelas ainda em formação nos dá a indicação da pouca idade e da massa do objeto.

Em rádio não é preciso esperar anoitecer para observar, podemos observar 24 horas por dia, se quisermos. Isso é impossível no visível por causa do espalhamento da luz do Sol pelas moléculas presentes na atmosfera, em especial o nitrogênio. Esse espalhamento é a origem da cor azul do céu. Se você olhar uma daquelas fotos das missões Apollo na Lua vai ver o céu escuro, mesmo sendo de dia. Isso acontece por que não existe atmosfera lá que possa promover esse efeito de espalhamento. Um telescópio na Lua poderia observar no visível mesmo de dia! Só que em comprimentos de onda mais longos, como o rádio, esse efeito de espalhamento não existe, o que possibilita observar tanto de dia, quanto de noite. E é isso o que fizemos.

Na verdade não conseguimos observar 24h por dia, mas só por que entre às duas e às oito da manhã não temos alvos no céu. O que é uma vantagem, mesmo dividindo as tarefas com um colega, ter umas horinhas de sono vai bem.

Agora outra surpresa nessa segunda parte da missão. Chegando nesse sábado, debaixo de muita chuva, bastou ligar os equipamentos e começar a trabalhar! Sim, observa-se de dia e observa-se com chuva também!! Eu já observei de dia no infravermelho, onde esse efeito de espalhamento existe, mas é menos intenso, mas observar com chuva nunca. A emissão rádio, nessa frequência consegue atravessar as nuvens, mas sofre uma bela de uma atenuação. Nós estimamos que estávamos detectando apenas 20-25% do sinal. Nessas condições somente fontes muito intensas mesmo.

As duas fotos mostram o ROI por fora, essa bola gigantesca que é uma redoma que protege a antena e todo o seu maquinário e eletrônica. A outra foto é a parte de trás da antena, apontada para uma fonte.

A antena do ROI tem 14 metros de diâmetro e está sendo reativada depois de cinco anos sem atividade regular. O observatório completa 40 anos em 2011.

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