quinta-feira, 3 de abril de 2014

Haverá lugar para a Rússia no quilômetro quadrado do SKA?


(Voz da Rússia) A Rússia recebeu uma proposta para participar no radiobservatório SKA (Square Kilometer Array), cuja construção está decorrendo na Austrália e na África do Sul.

O projeto deverá estar funcionando em pleno no início dos anos de 2020 e promete vir a ser o maior e mais sensível radiobservatório terrestre entre os existentes atualmente. A adesão ao projeto irá abrir um vasto leque de perspetivas para os cientistas e para a indústria. Mas até que ponto este projeto se insere nos atuais planos da astronomia russa?

A Rússia foi convidada a participar no projeto do radiointerferômetro SKA, anunciou o chefe do laboratório do Centro Astronômico Espacial do Instituto de Física Lebedev da Academia de Ciências da Rússia Yuri Kovalev durante a discussão pública das perspectivas da astronomia e da astrofísica na Rússia, realizada a 24 de março no Ministério da Educação e Ciência. Entretanto, sublinhou o cientista, antes de entrar no projeto como membro de pleno direito (do ponto de vista financeiro isso corresponde a uma contribuição anual de cerca de 1 milhão de euros) a direção do projeto se disponibilizou a oferecer uma participação como membro associado para que a Rússia possa analisar a sua possível participação. Este estatuto dá o direito a participar nas discussões sem impor ao país obrigações financeiras.

O projeto SKA, idealizado em 1991, inclui hoje 10 países e um membro associado, a Índia. Nele participa um total cerca de 100 organizações de 20 países (incluindo da Rússia). Contudo, uma participação como membro efetivo dá o direito a formar a sua política de investigação, realizar as suas próprias pesquisas e fazer encomendas à indústria nacional. Segundo foi sublinhado na reunião, de acordo com as regras do SKA todas as contribuições feitas por um país são devolvidas à sua indústria sob a forma de contratos.

O que irá afinal estudar o SKA? O objetivo do projeto é criar um radiointerferômetro que funcione com comprimentos de onda de 4 m a 3 cm e cujos dados sejam usados em diversas áreas da astrofísica, desde o estudo de determinados corpos celestes, como os radiopulsares por exemplo, até à observação de todo o céu no diapasão das ondas de rádio. A tarefa mais exótica será a procura de sinais de civilizações extraterrestres, a qual aliás pode ser considerada como um golpe de marketing.

As três mil antenas do SKA na Austrália e na África do Sul irão funcionar como um único telescópio, o chamado interferômetro, equivalente a um radiotelescópio com uma superfície do espelho de um quilômetro quadrado (daí o nome do projeto). Neste momento estão decorrendo em ambos os países os trabalhos dos projetos-piloto para o aprimoramento das tecnologias que depois irão ser incorporadas no SKA. Assim, no dia 27 de março entrou em funcionamento na África do Sul a primeira antena do telescópio MeerKAT. A construção do projeto SKA terá início em 2018 e os primeiros resultados em baixas e médias frequências já poderão ser obtidos após 2023.

A radioastronomia é uma das áreas em que a ciência russa teve e tem uma forte presença. Já os cientistas soviéticos foram dos primeiros a desenvolver o método de radiointerferometria com linha de base muito longa. Isso significa que os radiotelescópios que participam na observação se situam uns dos outros a distâncias comparáveis às distâncias entre continentes. As primeiras experiências desse tipo, em conjunto com telescópios norte-americanos e outros, tiveram início no final dos anos de 1960. Em território da Rússia hoje funciona a rede VLBI Quasar-KVO, que inclui três observatórios na região de Leningrado, na Carachai-Circássia e na Buriátia. Finalmente, já há dois anos e meio que funciona em órbita terrestre o radiotelescópio russo de 10 metros RadioAstron. Assim, uma futura participação no SKA parece ser lógica e atraente, a menos que se olhe para a questão financeira.

Neste caso se trata de definir as prioridades na investigação astronômica, o que ainda não foi feito. Assim, por exemplo, além do SKA também parece muito promissora a participação no Observatório Meridional Europeu (ESO). Isso irá exigir muito mais dinheiro, mas também os resultados científicos serão mais rápidos, porque o ESO já se encontra em funcionamento.

É possível que essa questão seja esclarecida pelo programa de desenvolvimento da astronomia na Rússia que se encontra em fase de elaboração na Academia de Ciências da Rússia.

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