quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Spitzer +10


(Mensageiro Sideral - Folha) O telescópio espacial de infravermelho Spitzer comemorou ontem dez anos em órbita. Para celebrar, a Nasa divulgou novas imagens obtidas pelo satélite, uma delas com um importante vínculo com o Brasil.

A imagem acima mostra a nebulosa Carina, localizada a cerca de 7.500 anos-luz da Terra, na direção da constelação de mesmo nome. No centro dela, a estrela mais brilhante é Eta Carinae — uma monstrenga com mais de 100 vezes a massa do Sol. Ela consome seu combustível estelar tão rapidamente que brilha 1 milhão de vezes mais que nossa estrela-mãe. Os cientistas imaginam que ela em breve pode explodir como uma hipernova. Trata-se de uma supernova com mania de grandeza, se é que você consegue imaginar algo assim. Caso ela dispare uma rajada de raios gama na direção da Terra, poderia até mesmo levar a uma extinção em massa por aqui. Mas não é o caso de temer. “Em breve”, em termos astronômicos, leva pelo menos vários milhares de anos para acontecer. (Lembre-se também de que ela está a 7.500 anos-luz da Terra, o que significa que ela pode até já ter explodido, mas os raios luminosos da detonação ainda não chegaram aqui!)

E a conexão com o Brasil? Um dos maiores especialistas mundiais em Eta Carinae é o astrônomo Augusto Damineli, da Universidade de São Paulo. Foi ele quem descobriu que essa estrela na verdade é binária — ou seja, é composta por duas estrelas próximas uma da outra –, ao prever uma queda periódica de brilho quando uma delas passa à frente da outra, a cada 5,5 anos.

É PHOTOSHOP?
Imagens como essa nos encantam por sua beleza, mas também criam uma sensação ambivalente em quem sabe como elas são obtidas. Veja bem, estamos falando de um telescópio espacial que detecta a radiação infravermelha — luz que, por definição, nossos olhos são incapazes de detectar. O que isso quer dizer? Que os cientistas precisam atribuir cores que enxergamos à luz que não podemos ver de forma que a imagem apareça para nós. Sim, é isso mesmo. Se estivéssemos próximos da nebulosa Carina, não é isso que veríamos.

Mesmo as imagens do famoso telescópio espacial Hubble, que são majoritariamente coletadas em luz visível, também pegam um pouquinho de infravermelho, de forma que as cores que enxergamos nas fotos não correspondem exatamente ao que veríamos.

Sentindo-se enganado? Não fique assim. É o único meio de os cientistas não se limitarem ao que nossos olhos podem ver. E há pistas sobre o funcionamento do Universo em todas as frequências de luz, das microondas (que revelam o eco do Big Bang) aos raios gama (que indicam o poder das explosões de supernova). Não é um truque barato de Photoshop. É um tributo à engenhosidade humana, que transcende o que nossos sentidos nos podem oferecer diretamente.

Então, sem mais delongas, outras duas imagens divulgadas para comemorar o aniversário de dez anos do Spitzer.


Acima, vemos a galáxia do Escultor (ou NGC 253), um objeto que passa por uma fase de intensa formação estelar. Localizada a uma distância de 10 milhões a 13 milhões de anos-luz (diferentes técnicas apresentam números variados nesse intervalo), ela é um alvo fácil para os astrônomos amadores do hemisfério Sul. Com um binóculo já se pode encontrá-la, próxima à estrela Beta Ceti. E com telescópios de fundo de quinta já se pode distinguir alguns detalhes.


Essa última imagem não é exatamente nova, mas foi usada pelo pessoal da Nasa para exemplificar o poder do Spitzer. Trata-se da nebulosa da Hélice, resultado da morte de uma estrela similar ao Sol. Quando astros desse tipo esgotam seu combustível, eles sopram sua atmosfera para o espaço e tudo que resta é um núcleo compacto, conhecido como anã branca. A nebulosa é o resultado da ejeção do gás estelar. Muitas vezes referida como o “Olho de Deus”, ela na verdade é uma janela para o futuro do Sistema Solar. A meros 700 anos-luz de distância, na constelação de Aquário, ela também é um ótimo alvo para astrônomos amadores.
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