segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O país dos grandes telescópios

Na atmosfera da Terra, temos camadas com várias substâncias, pressões e temperaturas diferentes, que resultam numa composição bastante heterogênea

(Victor Alencar - O Povo) Que o firmamento é cercado por estruturas misteriosas, isso não é novidade e por essa razão usamos os mais diversos aparelhos para enxergar além dos nossos olhos. Telescópios que enxergam frequências que vão desde o infravermelho até o ultravioleta são usados para essa tarefa de observar as estrelas, galáxias e outros corpos celestes, mas essa tarefa não é tão simples quanto parece.

Para se fazer observações minuciosas do céu, devemos eliminar o máximo de interferências possíveis entre o telescópio e o seu alvo, e quando eu digo interferências, na verdade, eu quero dizer a atmosfera.

A atmosfera é uma grande “casca” gasosa que envolve o nosso planeta e tem aproximadamente 100 quilômetros de espessura. A nossa atmosfera é bem espessa se comparada com as atmosferas de Mercúrio ou da nossa lua, mas se comparada com Júpiter ou Saturno, ficamos no chinelo.

Na atmosfera terrestre, temos diversas camadas com várias substâncias, pressões e temperaturas diferentes, que fazem com que a sua composição seja bastante heterogênea aos olhos da Astronomia.

Por esse motivo que, de décadas atrás até hoje, se investe bastante em telescópios espaciais. Com telescópios fora da atmosfera tudo fica mais simples, pois com todas essas variáveis a atmosfera funciona como uma lente, mas uma lente que altera o seu próprio formato, causando diversas deformações nas imagem obtidas.

Seria muito bom se a construção de telescópios espaciais fosse a opção mais prática e barata para nos livrarmos da interferência atmosférica, mas infelizmente não é. Colocar um telescópio em órbita requer um orçamento muito maior, pois deve ser levado em conta a construção de foguete ou a utilização de um ônibus espacial, que tem um alto custo devido ao combustível utilizado.

A respeito da manutenção também temos outro grande problema. Qualquer reparo ou ajuste em um telescópio espacial requer uma força-tarefa e um orçamento muito maior do que se esse telescópio estivesse em solo terrestre, além do que ajustes sempre são necessários. Com o famoso telescópio Hubble tiveram que fazer um conserto assim que ele foi colocado em órbita, pois quando enviou as primeiras imagens para a Terra foi verificada uma aberração ótica grave.

Assim, o ser humano criou técnicas para vencer a interferência atmosférica, como a ótica adaptativa, onde se calcula como está a atmosfera naquele instante e com esses dados somos capazes de modificar levemente a posição das partes menores (o espelho principal dos grandes telescópios são formados por vários espelhos menores com mecanismos motores acoplados para fazer os movimentos necessários) para que o espelho se “molde” a atmosfera e assim a imagem fique a mais nítida possível.

Entretanto, mesmo com a técnica da ótica adaptativa, não adiantaria muito se o local escolhido para se construir o observatório fosse um lugar com bastante nuvens e um índice de chuvas grande. É dessa forma que a maioria dos telescópios grandes do Hemisfério Sul estão localizados no Chile.

O Chile parece ter sido um país criado para abrigar os grandes telescópios. Mais precisamente na região do deserto do Atacama. Essa região que vai do norte do Chile até divisa com o Peru é considerada o deserto mais alto e mais árido do mundo. A sua aridez está associada com a sua altura, pois as correntes marítimas do Oceano Pacífico não conseguem transpassar a altura e entrar no deserto.

A aridez do deserto do Atacama é tão grande que pode fazer com que ele passe épocas sem presenciar chuva. Já foi registrado 1.400 anos sem indícios de chuva no local. Para os grandes observatórios, uma área com tamanha aridez faz com que ela tenha as menores turbulências atmosféricas da Terra, o que ajuda muito o processo de ótica adaptativa.

Assim fica fácil compreender porque tantos observatórios grandes como VLT (Telescópio Muito Grande, em tradução livre), Projeto Gemini (Hemisfério Sul), La Silla e muitos outros escolheram essa região desértica, mas com o céu mais limpo do mundo, para ser a nossa janela para o cosmos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário