terça-feira, 18 de setembro de 2012

Participação do Brasil em observatório europeu continua indefinida



(Herton Escobar / O Estado de S. Paulo) A adesão do Brasil ao Observatório Europeu do Sul (ESO, em inglês) e sua participação na construção do Telescópio Europeu Extremamente Grande (E-ELT) continuam indefinidas, quase dois anos após a assinatura de um acordo formal entre o consórcio europeu e o governo brasileiro. A parceria, que garantirá o acesso de pesquisadores brasileiros a vários telescópios de ponta do ESO instalados no Chile, tem um custo estimado de R$ 565 milhões em dez anos.

Os primeiros pagamentos deveriam ter sido feitos em 2011, mas não foram, porque o contrato de adesão não foi enviado ao Congresso para ser ratificado – etapa necessária por se tratar de um acordo entre países. Em janeiro, o diretor-geral do ESO, Tim de Zeeuw, fez várias advertências de que a sociedade com o Brasil poderia ser revista, ou até cancelada, caso o País não ratificasse o acordo até meados deste ano – o que não aconteceu.

Agora, em nova entrevista ao Estado, Zeeuw diz que sua intenção não foi dar um “ultimato” ao Brasil, mas “encorajar” o País a acelerar o processo de ratificação e, assim, garantir a participação da indústria brasileira nas licitações para construção do E-ELT – que deverá ser o maior telescópio do mundo, com um espelho de 39 metros de diâmetro. “A indústria brasileira tem ótimas condições de competir nesse processo, mas só poderá receber contratos se o Brasil for membro pleno do ESO, o que implica em ratificar o acordo de adesão e depositar os pagamentos anuais”, afirma Zeeuw.

Segundo informações do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o acordo de adesão foi enviado ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) no dia 30 de maio e agora está com a Casa Civil, com a anuência de ambas as pastas. A Casa Civil informou apenas que o documento está “em análise” e não deu previsão de quando (ou se) ele será enviado ao Congresso. Zeeuw, porém, não estipulou nenhum novo prazo de tolerância, dizendo apenas que “seria melhor” se o Brasil ratificasse o acordo até o fim deste ano, já que os contratos de construção do E-ELT começarão a ser negociados em 2013.

“Nenhum dos 14 sócios europeus tem interesse em ‘expulsar’ o Brasil. Pelo contrário, eles têm uma opinião muito positiva sobre a adesão do País, uma vez que isso permitirá trabalhar em parceria com o Brasil em ciência e tecnologia, com benefícios mútuos”, afirma o diretor.

Mais do que isso, a participação do Brasil é considerada vital, financeiramente falando, para a construção do E-ELT. Fontes próximas ao projeto dizem que os europeus, em meio a uma crise econômica e com seus orçamentos já esticados ao máximo, não têm como bancar o telescópio sozinhos – o que explicaria a inusitada “paciência” europeia com o Brasil. O custo estimado do telescópio é de mais de EU$ 1 bilhão.

A entrada do Brasil no ESO, se confirmada, faria do País o primeiro não europeu a integrar o consórcio. A maior parte da comunidade científica astronômica brasileira é favorável à adesão. Alguns críticos, porém, consideram o preço alto demais – mesmo com o desconto de 30% oferecido pelo ESO, comparado ao que pagam os países europeus.

A bandeira do Brasil já figura no site e em todos os materiais de divulgação do ESO desde o início de 2011, mesmo com o acordo não ratificado. Astrônomos brasileiros, assim como os de qualquer outro país não membro, sempre puderam participar de pesquisas feitas com os telescópios do ESO (todos localizados nos Andes chilenos), mas sempre em colaboração com parceiros europeus. Como membro do consórcio, o País ganharia muito mais acesso e autonomia no uso desses telescópios, que estão entre os melhores do mundo para uma série de aplicações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário