segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O sucessor do Hubble



(Ethevaldo Siqueira - Estadão) O telescópio espacial Hubble revolucionou nosso conhecimento do universo, ao longo dos últimos 22 anos, desde o seu lançamento em órbita em 1990. A massa de novas informações que ele forneceu foi tão grande nesse período, que poderíamos dividir a cosmologia, em duas eras: uma antes e outra depois do Hubble, com duas siglas talvez assim: aH e dH.

Imagine agora, leitor, o que poderá significar para o futuro conhecimento astronômico da humanidade o novo telescópio especial James Webb, projetado para ser o sucessor do Hubble. Muito diferente de seu antecessor em sua concepção, o próximo observatório orbital terá o tamanho de uma quadra de tênis, e vai girar em torno da Terra a uma distância quase quatro vezes maior do que a da Lua, a 1,5 milhão de quilômetros.

Diferença básica
Quanto ao seu funcionamento, uma das grandes diferenças básicas entre o Hubble e o Webb será a predominância e do uso das radiações infravermelhas, que são, aliás, vitais para a compreensão do universo. Basta lembrar que os objetos mais distantes só podem ser bem observados em luz infravermelha. Outros corpos celestes mais frios – ou menos quentes – seriam invisíveis se não fossem observados nesse espectro. Nem a espessura das nuvens de poeira cósmica poderia ser avaliada com alguma precisão se não fossem as manchas infravermelhas que lhes definem o contorno.

Duas características fundamentais do Webb serão seu espelho de 6,5 metros de diâmetro e sua órbita distante, situada no ponto chamado L2, em que se equilibram as atrações gravitacionais da Terra, da Lua e do Sol. Ao girar nessa órbita situada a 1,5 milhão de quilômetros de distância da Terra, o Webb detectará a radiação infravermelha com muito maior precisão do que qualquer outro telescópio no espaço, segundo prevê a Nasa (sigla em inglês da Administração Norte-Americana de Aeronáutica e Espaço).

Para o novo telescópio espacial será tão fácil enxergar o universo no comprimento de onda infravermelho quanto o Hubble enxerga no espectro de cores visíveis. A expectativa dos cientistas, portanto, é de que o novo telescópio espacial deverá permitir uma massa incrível de novas descobertas, abrindo uma porta para o conhecimento de um trecho do universo ao qual a humanidade tem tido pouco acesso em suas observações.

Mesmo com os cortes radicais impostos ao orçamento da Nasa, a equipe de cientistas e engenheiros responsável pelo projeto continua trabalhando no desenvolvimento do desenho e da montagem das peças que deverão constituir o Webb, incorporando em seu projeto o que existe de mais avançado em matéria de tecnologia. Aliás, o novo telescópio espacial foi concebido para resistir não apenas ao mais intenso dos frios como, também, para tirar o máximo de vantagens dessa situação.

Abrindo as asas
O telescópio especial Webb viajará dobrado dentro de um foguete para facilitar seu lançamento e abrirá suas asas como uma borboleta, assim que se aproximar de sua órbita definitiva.

Se novos cortes do orçamento da Nasa não forem feitos, é provável que o lançamento do Webb ao espaço venha a ocorrer até o final desta década ou, no máximo, em 2021, e ser posto numa órbita distante e isolada, para, então, dar início a um conjunto de pesquisas totalmente novas. Em sua lista prioritária de tarefas, o novo observatório deverá trazer milhares de informações sobre supernovas, buracos negros, galáxias jovens e planetas que possam potencialmente abrigar alguma forma de vida. O que os cientistas esperam, assim, é um conjunto de respostas sobre os maiores mistérios da astronomia. Para cumprir essa pauta de trabalho, o Webb contará com o apoio das tecnologias e dos recursos mais avançados da atualidade.

Por que Webb?
O nome do novo telescópio espacial é uma homenagem a James Webb, segundo diretor geral da Nasa, que foi responsável pelo Projeto Apollo, que levou diversos astronautas norte-americanos à Lua.

Os dirigentes da Nasa costumam recordar o compromisso dos Estados Unidos, feito pelo presidente John Kennedy em 1961, de que os norte-americanos levariam o primeiro homem à Lua e o trariam de volta com toda segurança antes do final daquela década. Na interpretação de James Webb, o projeto espacial norte-americano era muito mais do que um compromisso político, por sua grande sinergia sobre o trabalho das universidades e da indústria aeroespacial. Hoje, igualmente, o novo telescópio espacial representa muito mais do que um compromisso político. É, mais do que tudo, um desafio científico e tecnológico.

Como parte de uma história oral do novo telescópio espacial, a biblioteca LBJ, de Austin, no Texas, conseguiu recuperar o áudio das conversas mantidas entre James Webb e o ex-presidente John Kennedy e seu vice-presidente, Lyndon Johnson. Segundo a transcrição de um trecho, Kennedy teria dito a Webb aproximadamente o seguinte: ”Não estou iniciando um programa que se resume num único objetivo. Se você aceita ser o administrador, é para transformar o programa espacial num conjunto de benefícios para o país como um todo.”

Numa avaliação histórica da gestão de James Webb, os especialistas reconhecem hoje a importância de sua visão equilibrada de todo o programa espacial norte-americano

Nenhum comentário:

Postar um comentário