quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cooperação Empresarial Brasil-Chile e a "Floresta de Telescópios"

(José Monserrat Filho - JC) Importante delegação empresarial e acadêmica do Chile discutiu no Brasil, durante três horas, na manhã de terça-feira, 10 de maio, como a indústria dos dois países pode aproveitar, da melhor maneira possível, as grandes chances abertas pela construção, nos Andes chilenos, daquele que será o maior observatório do mundo, o Telescópio Extremamente Grande (E-ELT), da Organização Européia para a Pesquisa Astronômica no Hemisfério Astral (ESO).

A ESO, a entidade de ponta da astronomia moderna, tem diversas e poderosas instalações no norte do Chile, o melhor lugar do mundo para observações astronômicas. Daí a existência nos elevados desertos chilenos de uma "floresta de telescópios", como disse Walter Bartels, presidente da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), presença ativa no encontro.

Os empresários chilenos passaram a ter especial interesse na colaboração com seus colegas brasileiros, depois que o Governo do Brasil firmou, em 29 de dezembro de 2010, um acordo de associação plena à ESO, pelo qual, se ratificado pelo Congresso Nacional, nosso país passará a ser o 15º membro da organização e o primeiro fora da Europa. O Chile entra com suas montanhas e céus privilegiados, mas não é, nem pretende por ora aderir à ESO.


A reunião com a delegação chilena, na sede Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em S. Paulo, chegou a um consenso altamente positivo: as empresas dos dois países devem, sempre que possível, trabalhar integradas, atuar proativamente e formular propostas mais competitivas, reunindo o melhor da competência e da criatividade de ambas as partes.

Fatores de Atração e o Apoio Necessário
Dois dados exercem forte atração nesta perspectiva: 1) a história da ESO mostra que, em média, cerca de 75% das contribuições de cada país à organização costumam retornar às suas empresas nacionais; e 2) de 10% a 15% do custo total da obra do gigantesco telescópio E-ELT, calculado em mais de um bilhão de euros, poderão ser faturados por empresas brasileiras e chilenas.

E não se trata apenas de serviço de terraplanagem ou de construção civil usual, embora isso não seja de se jogar fora. Trata-se, também e em especial, de demandas tecnológicas, mais ou menos sofisticadas, que temos condições de atender agora ou em futuro próximo - bastando que tomemos a iniciativa certa, com a articulação certa, na hora certa.

Esse horizonte promissor terá certamente o apoio firme e decidido do governo brasileiro. Primeiro, da própria presidenta Dilma Rousseff, que neste ano deve visitar o Chile, onde muito provavelmente visitará as instalações da ESO e correrá o risco de, como já aconteceu com outras autoridades, ficar profundamente impressionada com o maior centro mundial da astronomia do século 21. E, segundo, do Ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, empenhado em fortalecer e acelerar ainda mais os esforços que o país vem fazendo em prol do desenvolvimento tecnológico e da inovação em nossas empresas - pequenas, médias e grandes - e da cooperação internacional e regional capaz de estimular esse objetivo prioritário.

Os Chilenos Ficaram Empolgados
Presidia a comitiva visitante o experiente embaixador Gabriel Rodrigues, diretor (há 10 anos) de Energia, Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério das Relações Exteriores do Chile. Ele elogiou algo que chamou de pouco comum em encontros desta natureza: a objetividade, a informalidade e a franqueza. O resultado, na opinião unânime dos participantes, não poderia ter sido melhor. Um começo de colaboração que entusiasmou a todos, pois relevou oportunidades reais e estratégias conjuntas viáveis e vantajosas para todos.

Para melhor avaliar o fato, vale conhecer o perfil dos 15 membros da delegação chilena, além do embaixador já citado: Glória Maldonado, da área internacional do Programa Inova Chile, da Corporação de Fomento à Produção (Corfo), principal entidade do setor; Karen Molina, coordenadora de Astronomia e Capital Humano Avançado do Ministério das Relações Exteriores; Álvaro Urzua Marin, presidente da Associação da Indústria Elétrica e Eletrônica e gerente geral da AXYS S. A. do Chile; Conrad Von Igel Grisar, chefe da Divisão de Inovação do Ministério da Economia; Cristian González, diretor de Estudos de Produtividade e Plataformas Transversais do Conselho Nacional de Inovação para a Competitividade; Eduardo Vera, gerente de Inovação e Desenvolvimento do Centro de Modelação Matemática (CMM); Leopoldo Infante, diretor do Centro de Astro-Engenharia da PUC-Chile; Mauricio Solar, diretor do Centro de Governo Eletrônico e Acadêmico do Departamento de Informática da Universidade Técnica Santa Maria (UTFSM); Patrício Rojo, professor do Departamento de Astronomia da Universidade do Chile; Paulina López, do Projeto da Rede Universitária Nacional (Reuna); Ricardo Finger, do Laboratório de Ondas Milimétricas do Departamento de Astronomia da Universidade do Chile; Patrício Vásquez, diretor do Departamento de Estudos e Planificação Estratégica da Comissão Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (Conicyt); Leonardo Vanzi, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Chile; Andres Meza, diretor de Licenciatura em Astronomia da Universidade Andrés Bello; e Douglas Paul Geisier, professor do Departamento de Astronomia da Universidade de Concepcion.

O Brasil e a Chance de Subir a Novo Patamar em CT&I
Por sua vez, o Brasil esteve muito bem representado no encontro, a começar pelo já referido Walter Bartels, líder várias vezes reeleito de nossa indústria aeroespacial. Lá estavam também: Murilo Osório, gerente geral da Gerdau; Frederico Marchiori, consultor de Relações Internacionais da Construtora Queiroz Galvão; Evandro Daltro, da Construtora DAS; César Ghizoni, diretor-presidente da Equatorial Sistemas; Celso Vaz, da Orbital Engenharia; Dorival Lopes, do Departamento Comercial, e João Evangelos Zachakaris, do Departamento de Engenharia da Avionics Services; Luis Alfredo Papini, do Departamento de Engenharia de Aplicações da Equitron Automação; Ademar Seabra da Cruz, chefe da Divisão de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério das Relações Exteriores; Eduardo Janot Pacheco, pesquisador do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP) e presidente da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB); e Beatriz Barbuy, membro da Academia Brasileira de Ciências, vice-presidente da União Astronômica Internacional, além de professora e pesquisadora do IAG/USP.

Beatriz fez substanciosa exposição aos chilenos sobre as oportunidades concretas de nossa participação empresarial nas obras da ESO no Chile, inclusive na área vital da instrumentação. Muitos participantes da reunião pediram cópia de sua apresentação. Tanto no Brasil quanto no Chile esse assunto, de enorme relevância estratégica para o setor produtivo, é ainda bem pouco conhecido. O déficit de informações mobilizadoras sobre esse desafio extraordinário precisa ser superado com máxima urgência.

Como Janot tem reiterado, a entrada do Brasil na ESO representa oportunidade histórica de o país galgar um patamar qualitativamente novo no avanço científico, tecnológico e industrial. A articulação de um bloco empresarial e científico Brasil-Chile só vem reforçar esse caminho.

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