terça-feira, 27 de abril de 2010

Relembrando a estreia míope do telescópio Hubble


(Cassio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) ) O telescópio espacial Hubble completou 20 anos de serviços prestados neste fim de semana. Lançado em 24 de abril de 1990, o Hubble representou, na época, o maior investimento da humanidade em um aparelho científico. O telescópio revolucionou a astronomia, principalmente por suas descobertas e imagens belíssimas. Mas também inovou em muitos conceitos: foi a primeira vez em que um telescópio espacial foi projetado para receber missões de reparos e upgrades – e isso ocorreu quatro vezes. Revolucionou também na maneira de divulgar a ciência produzida com os dados obtidos. Para o Hubble, foi criada uma agência (na verdade duas, uma nos EUA e outra na Europa) especificamente para divulgar as imagens, os artigos escritos e os resultados oriundos das pesquisas com ele. Rapidamente o Hubble se tornou o instrumento científico mais popular do mundo.

Aqui no G1 você pode ver as imagens que fazem os sonhos de qualquer astrônomo nessa coletânea dos 20 anos, mas aqui no blog você vai ver as imagens que fizeram o pesadelo dos astrônomos entre 1990 e 1993. Testes da curvatura do espelho de 2,4 metros foram feitos em um equipamento defeituoso antes do lançamento. Assim, uma falha séria no polimento do espelho passou despercebida e o investimento de alguns bilhões de dólares parecia ter ido para o espaço (no mau sentido da expressão).

A primeira imagem obtida pelo Hubble é esta em preto e branco à direita e à esquerda está a mesma região observada de um telescópio no Chile. Trata-se de uma estrela dupla, que mal se percebe da superfície da Terra, mas é evidente na imagem feita do espaço. Nessa fase, o telescópio ainda estava em fase de comissionamento, ou seja, ainda estavam sendo feitos os testes de foco e alinhamento dos elementos ópticos e o pesadelo ainda não tinha sido percebido. Tudo parecia normal.

Algum tempo depois… aconteceu. É que por mais que se tentasse, nunca o foco do telescópio convergia, as imagens estavam sempre com um aspecto borrado e difuso. As imagens eram típicas de um espelho com um defeito bem conhecido: aberração esférica. Mesmo com essa aberração, as imagens do Hubble ainda eram melhores que as obtidas da Terra, mas estavam longe daquilo que havia sido planejado. E pago pelos contribuintes!

No primeiro dia de dezembro de 1993, uma missão do ônibus espacial partiu para corrigir o defeito. Para isso, a câmera WFPC1 foi substituída pela WFPC2, especialmente redesenhada para compensar o erro na curvatura do espelho. No mesmo dia, foi obtida uma imagem da galáxia M100. No dia 31 de dezembro a missão terminou, e no dia 13 de janeiro de 1994 saiu uma imagem de M100 tirada após a troca das câmeras. Não preciso nem dizer qual é a imagem com a nova câmera.

A partir de então, o Hubble passou a operar em sua plenitude. Claro que com alguns percalços vez ou outra, quando um instrumento deixava de funcionar, ou por exemplo o sistema principal de armazenamento de dados pifou e o sistema “B” teve de ser acionado pela primeira vez em 15 anos, deixando todo mundo apreensivo.

A missão de reparos do Hubble no ano passado foi a última. Seu substituto, o telescópio espacial James Webb, deve entrar em operação em 2014, se não houver atrasos. Ele terá um espelho de 6 metros e ficará posicionado em uma órbita muito distante da Terra. Uma vez lá, não será mais acessível. Enquanto isso não acontecer, vamos contando com o Hubble para desvendar os mistérios do universo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário