segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Telescópios verão toda a história do cosmo

(Folha) A partir da próxima década, a astronomia terá pela primeira vez um arsenal de telescópios capaz de investigar toda a história do cosmo. Em um dos encontros que encerraram anteontem a Assembleia Geral da IAU (União Astronômica Internacional), cientistas relataram que sete das propostas mais ambiciosas de telescópios estão em andamento.

Por serem caros, alguns projetos ainda não obtiveram financiamento completo, mas todos têm pelo menos o dinheiro inicial. Uma vez prontos, os instrumentos revelarão em detalhes como eram as primeiras estrelas do Universo, mostrarão qual é a forma da Via Láctea e captarão com facilidade a luz vinda direto de planetas de fora do Sistema Solar.

"Nós seremos, então, literalmente, capazes de estudar objetos de todas as idades do Universo, desde as primeiras coisas que se formaram até hoje", disse Gerard Gilmore à Folha, astrônomo da Universidade de Cambridge (Reino Unido).

Capazes de enxergar a luz e outros tipos de radiação magnética em todas as frequências, cientistas terão pela primeira vez uma visão em alta resolução delas.

Gilmore, que coordenou o encontro sobre telescópios no Rio de Janeiro, participa do Gaia, da ESA (Agência Espacial Europeia). O projeto, que recebeu 500 milhões, está com a agenda em dia, e decola ao espaço em 2012.

O Telescópio Espacial James Webb, iniciativa conjunta da Nasa e da ESA, de US$ 5 bilhões, deve zarpar em 2014.

Ambição
Em terra firme, o gigantesco GMT (Telescópio Gigante de Magalhães), de 24 metros de largura, mal começou a ser fabricado. Segundo Matthew Colless, astrônomo encarregado de representar o projeto na IAU, US$ 200 milhões do total de US$ 690 necessários já estão em caixa, saídos de EUA, Austrália e Coreia do Sul.

O GMT será instalado no Observatório Las Campanas, no Chile, mas deve ficar pronto só em 2018. Será um salto ambicioso para a astronomia. O maior instrumento óptico em operação hoje, o Grande Telescópio das Canárias, não tem nem a metade deste tamanho.

Se tudo correr certo, em 2018 deverão estar prontos também outros dois projetos, maiores ainda. Eles são o TMT (Telescópio de Trinta Metros), no Havaí, e o E-ELT (Telescópio Europeu Extremamente Grande), com 42 metros de largura, que ainda não escolheu locação.

Cada um deverá custar algo em torno de US$ 1 bilhão. Não é megalomania, dizem os astrônomos. O problema é que a precisão desses instrumentos depende diretamente de seu diâmetro, explica Markus Kissler-Patig, do E-ELT.

A façanha do ponto de vista de engenharia, porém, fascina a todos. "O domo do nosso telescópio será do tamanho de um estádio de futebol".

O observatório gigante mais perto de começar a operar, porém, não terá telescópios individuais tão largos. O projeto ALMA, no Chile, um arranjo de 66 grandes antenas parabólicas para captação de micro-ondas emitidas por corpos celestes, fará as primeiras observações em 2011.

Micro-ondas não são visíveis pelo olho humano, mas são fundamentais em astronomia, explica Alison Peck, que apresentou o projeto no Rio. "Elas permitem ver atrás de grandes nuvens de poeira e gás, como aquelas em regiões onde nascem as estrelas", diz.

O maior observatório do mundo, o SKA (Square Kilometer Array), também não verá luz.

Especializado em captar ondas de rádio, deve ficar pronto em 2017, construído num esforço conjunto entre 19 países. Austrália e África do Sul disputam a hospedagem. Custando cerca de US$ 1,5 bilhão, o SKA consistirá em 3.000 radiotelescópios espalhados numa área de até 3.000 km de extensão.

Com tanta verba gasta em telescópios, a impressão que se tem é de não falta dinheiro. Segundo Gilmore, porém, o que permitiu aos telescópios darem um salto tão grande não foi o dinheiro, e sim a engenharia. "Aprendemos a usar computadores com muita precisão".

Ainda assim, Gilmore diz temer que a astronomia caia no mesmo beco sem saída da física de partículas: o orçamento do mundo inteiro para esse campo é consumido basicamente pelo acelerador de partículas LHC. "O espaço para individualismo está diminuindo na astronomia, também", diz.

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