sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Wendy Freedman: ‘o telescópio Giant Magellan será revolucionário’

Cientista participa do projeto que substituirá o Hubble, telescópio que será aposentado nos próximos anos


(O Globo) Uma das principais astrônomas do mundo, a canadense-americana Wendy Freedman, de 57 anos, lamenta a despedida do telescópio Hubble. Mas ela acredita que seu sucessor, o James Webb, e o novo telescópio dos Andes chilenos abrirão uma janela inédita para a compreensão da origem do universo e trarão novas técnicas para a busca de formas de vida fora da Terra.

O telescópio espacial Hubble já virou lenda, mas irá se aposentar em alguns anos. O que esperar do seu sucessor, o James Webb?
O espelho do James Webb terá 6,5 metros de diâmetro, enquanto o do Hubble tem 2,5 metros. O plano é lançá-lo em 2018, por meio de um consórcio internacional liderado pela Nasa. Ele será complementar ao telescópio que estamos construindo em solo, o Giant Magellan Telescope, no Chile, e nos permitirá ir mais longe na investigação dos detalhes do Universo por meio da radiação infravermelha, à qual será sensível. Ele abrirá uma janela para o que chamamos de Universo primordial. Será revolucionário.

Já está sentindo falta do Hubble?
Ele é mesmo especial. Foi o primeiro telescópio a realmente a chegar acima da atmosfera da Terra, permitindo que contornássemos a turbulência que ela provoca. Quando foi lançado, pudemos ver dez vezes melhor o que víamos em telescópios no chão. A despedida vai ser triste, sim. Eu não vou chorar porque o James Webb virá no lugar dele (risos).

Quando o Hubble deixará, de fato, de funcionar?
Pode acontecer a qualquer momento. Sua vida já foi prolongada por meio de alguns instrumentos. Mas os giroscópios, que permitem ao telescópio mirar com muita precisão, podem falhar a qualquer instante. Se isso acontecer, não será mais possível direcionar o Hubble. O fato é que ele já está funcionando mais que o previsto, e já teve uma experiência de “quase morte" (risos). Mas a ideia é que sobreviva ao lançamento do James Webb e ao Giant Magellan.

Que fim terá o Hubble? Será possível trazê-lo de volta ao chão?
Fala-se, sim, em enviar uma missão para buscá-lo e colocá-lo no Smithsonian Space Museum. Mas não há planos concretos e, portanto, o mais provável é que o deixem onde está.

O problema é custo ou tecnologia?
Em teoria, buscá-lo é possível. Mas seria muito caro.

O que o Hubble representou para a ciência e para os cientistas?
Ele proporcionou novas possibilidades. Os telescópios em terra têm limitações porque a atmosfera está em constante movimento. Podemos dizer que a turbulência borra as imagens. Ficando acima da atmosfera, o Hubble não sofre com isso. Foi como colocar óculos e, pela primeira vez, poder ver e focar coisas que não se podia enxergar antes. Ele também pode enxergar a radiação ultravioleta, que é filtrada pela atmosfera e seria danosa aos humanos, mas é muito importante para a astronomia. O Hubble abriu uma nova janela que jamais poderíamos acessar sem sua ajuda. Muitos astrônomos só estudam o que estudam por causa das funcionalidades do Hubble.

Ele foi ainda importante para leigos, certo?
Claro. Às vezes pego um táxi e falo que sou astrônoma, e o motorista conhece o Hubble. As pessoas reconhecem aquelas lindas imagens.

E quanto ao Giant Magellan?
É um novo telescópio em estágio de planejamento. Terá 25 metros de diâmetro, sendo maior do que qualquer outro que existe hoje. Ficará em terra, nos Andes chilenos. Adoraríamos lançá-lo ao espaço, mas é muito grande (risos)! Ele terá dez vezes a resolução do Hubble, será um aumento dramático.

Mas sofrerá a interferência da atmosfera...
Aí é que está: aprendemos a corrigir isso por meio de um sistema de lasers. Ele vai monitorar os movimentos atmosféricos e corrigi-los em seu sistema a uma velocidade de mil vezes por segundo. É incrível.

A senhora foi uma das responsáveis pelo programa que chegou à Constante de Hubble, que possibilitou calcular a idade do Universo. As novas tecnologias podem levar a revisões daqueles cálculos?
Com o Hubble, estimamos a idade do Universo em 13,7 bilhões de anos. Hoje há outros jeitos de calcular isso. Um deles indica 13,8 bilhões de anos. As diferenças são mínimas. Os novos telescópios, e mesmo o Hubble, testarão esses resultados. Mas acho pouco provável que os números mudem drasticamente.

A senhora acredita em vida inteligente fora da Terra?
É uma pergunta em aberto. Eu não sei se há vida inteligente, mas acho muito pouco provável que não exista qualquer tipo de vida. O fascinante é que isso não será mais um tema de ficção científica. Com os novos telescópios, poderemos vasculhar a atmosfera dos planetas em busca de indícios de vida, como água, ozônio, dióxido de carbono etc.

Como eles farão isso?
Por meio do espectro. Dispersamos a luz, como um arco-íris, e procuramos por evidências no espectro que mostram a presença de certas moléculas na atmosfera.

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