sexta-feira, 13 de junho de 2014

Segunda chance

O telescópio espacial Kepler, que enguiçou no ano passado, volta à ativa em nova missão, com participação de astrônomo brasileiro.


(Ciência Hoje) Depois de ter enguiçado no ano passado e ter sido dado como morto, o telescópio espacial Kepler, da agência espacial norte-americana (Nasa), ressuscitou oficialmente na última sexta-feira (30/05) em uma nova missão batizada de K2. Se antes o satélite era um caçador de planetas que ficava apontado somente para uma região do céu, agora ele se tornará um explorador mais diversificado, olhando para diferentes regiões celestes e variados corpos astronômicos.

Com apenas três anos de uso, o Kepler perdeu a funcionalidade de duas das suas quatro rodas de estabilização. Essas peças eram responsáveis por movimentar o telescópio, mantendo-o sempre apontado para a região do céu que esquadrinhava, na constelação de Lira.

Sem as peças funcionando, o telescópio ficou sem estabilidade. Mas cientistas da Nasa deram um jeito de retomar o controle do telescópio com a ajuda da luz do Sol. O Kepler orbita o nosso astro rei, que a todo momento emite milhares de partículas de luz (fótons) em direção a ele. Essas partículas exercem pressão sobre o telescópio que pode ser aproveitada para estabilizá-lo. Se os fótons empurram de um lado, as estabilizadoras ainda ativas podem ser usadas para contrabalançar essa pressão e manter o Kepler estável.

Como a pressão do Sol não pode ser controlada, agora o telescópio não será mais capaz de focar um ponto fixo por muito tempo. Mas por que não usá-lo para explorar várias regiões do espaço?

Os cientistas já calcularam as movimentações necessárias para que as rodas de estabilização mantenham o Kepler estável por mais dois anos e meio, quando seu combustível deve acabar. Com os ajustes, o telescópio vai conseguir ficar apontado para uma mesma região celeste por cerca de 83 dias seguidos, até que seja necessário rotacioná-lo para evitar o contato direto de sua lente com o Sol, o que ofuscaria a sua ‘visão’.

Dedo brasileiro
A cada volta que o telescópio der em torno do Sol, será possível observar aproximadamente cinco regiões. A primeira campanha vai se voltar para as constelações de Leão e Virgem.

Pesquisadores do mundo todo têm interesse nos dados que o Kepler vai coletar nesses pontos e a Nasa já selecionou os projetos sortudos que se beneficiarão. Entre eles, estão dois estudos com a participação de um brasileiro, o astrônomo José Dias do Nascimento, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e atualmente visitante no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics (CfA).

Um dos projetos visa analisar a concentração de lítio nas estrelas para entender melhor os processos que ocorrem em seu interior. Pela análise do lítio, é possível saber, por exemplo, a idade aproximada de uma estrela.

Já o segundo projeto vai procurar gêmeas solares, estrelas semelhantes ao Sol que podem abrigar em sua órbita planetas similares à Terra (e possivelmente habitados). Essa busca será feita a partir de 2015, quando o Kepler estiver apontado para o aglomerado M67, que contém milhares de estrelas com a mesma idade do nosso sol.

“Na primeira fase do Kepler, não foi observado nenhum aglomerado com estrelas da idade do Sol”, comenta Nascimento. “Somente agora, com essa nova missão, é que conseguiremos observar um aglomerado com estrelas da mesma faixa etária do Sol, ou seja, de 4,6 bilhões de anos. Assim, as chances de encontrar gêmeas solares são grandes e, por consequência, é possível encontrar vida.”

Os brasileiros já têm tradição na busca por esse tipo de estrela. Das cerca de 20 gêmeas já detectadas, seis foram descobertas por pesquisadores de universidades nacionais. A mais recente, HIP 102152, foi identificada no ano passado por Nascimento e colegas. Aliás, o astrônomo avisa que ainda neste ano vai divulgar mais novidades nesse campo e garante que sua participação na missão K2 vai render bons frutos ao Brasil.

“Estar aqui neste centro na hora certa e com o histórico que já tenho nessa área de pesquisa com certeza foi o combustível propulsor para que eu recebesse essa oportunidade, que, certamente, manterá a minha pesquisa e a de muitos colegas da área pelos próximos anos no Brasil”, avalia.

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