terça-feira, 12 de novembro de 2013

Projetos alimentam conflito em comunidade astronômica do país

(Folha) Quando o Ministério da Ciência e Tecnologia negociava a entrada do Brasil no ESO (Observatório Europeu do Sul), em 2010, um grupo de astrônomos de São Paulo lançou críticas.

Para João Steiner, da USP, o valor envolvido era alto demais, e projetos nacionais seriam relegados a uma posição secundária, já que o ESO não concede cota fixa de tempo de observação a ninguém. Pedidos são avaliados um a um --por mérito científico--, e astrônomos brasileiros com menor poder de fogo viriam a ter mais dificuldade.

As críticas levaram a Sociedade Astronômica Brasileira a fazer uma consulta entre seus membros, e a maioria (75%) se disse a favor do acordo com o ESO, com 17% de abstenções e só 8% contra.

Para alguns cientistas, se o Brasil quiser que sua astronomia amadureça, não adianta evitar competição por espaço no ESO. "Hoje a comunidade brasileira tem dificuldade não pela qualidade das propostas, mas pelo baixo número que é submetido", diz Claudio Melo, diretor científico do ESO no Chile. "Se o Brasil se der conta de que o ESO é dele também, esse número vai aumentar."

Para ajudar o país a aproveitar a oportunidade, Melo vem ao Brasil com frequência para ensinar astrônomos a submeterem propostas com maior chance de aprovação.

Com a notícia de que o consórcio americano à frente do projeto do telescópio GMT assediava o Brasil em busca de verba, os europeus rebateram as críticas. Tim de Zeeuw, diretor-geral do ESO, aponta que o projeto americano não inclui direito de acesso a telescópios com poder similar ao do VLT, em operação no Chile, que continuará a ser o maior do mundo até 2020.

Robert Kirshner, astrônomo de Harvard que articula a construção do GMT, reconhece que o consórcio não tem como oferecer tempo em outro observatório, mas pode "discutir a possibilidade de colaborações que ajudem a tornar o GMT uma realidade".

Segundo Cássio Barbosa, astrônomo da Universidade do Vale do Paraíba, defensor do GMT, a intenção do projeto não é sabotar o acordo com o ESO, mas criar uma salvaguarda. "E se o acordo com o ESO não passar? O Brasil ficaria sem acesso a nenhum supertelescópio."

Segundo Márcio Maia, do Observatório Nacional, o que o ESO oferece de especial é tempo no VLT, para o Brasil ter tempo de aprendizado. "Ter acesso a um telescópio gigante sem usar telescópios intermediários antes não vai funcionar."

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