sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Engenheiros e astrônomos, dois mundos unidos pela ciência


(Cesar Baima - O Globo) Engenheiros nos telescópios, astrônomos na sala de controle. O que parece uma inversão de lugares na verdade são dois mundos unidos pela ciência no Observatório de Paranal. De um lado, os engenheiros cuidam dos equipamentos e garantem que tudo corra bem para que, do outro, os astrônomos consigam cumprir suas jornadas de observações noite adentro. E no final a vencedora é a ciência, fruto deste esforço conjunto para operar os maiores e mais poderosos instrumentos do Observatório Europeu do Sul (ESO) no Chile.

Aqui em Paranal, um dia típico de trabalho começa de forma bem prosaica, com os engenheiros verificando previsão do tempo. A preocupação principal, no entanto, não é com a cobertura de nuvens - ela é rara por aqui -, mas sim com a temperatura no fim do dia. O objetivo é regular os sistemas de ar condicionado das cúpulas dos seis grandes telescópios instalados no complexo para que a temperatura interna delas seja a mais próxima possível da externa e evitar que um choque térmico danifique os enormes, caros e únicos espelhos dos telescópios quando as cúpulas forem abertas pouco antes do Sol se pôr. Se um deles trincar, não há substitutos e o telescópio terá que ficar parado durante anos até que outro seja fabricado de forma praticamente artesanal, transportado e instalado.

Antes de abrirem as cúpulas, porém, cabe ainda aos engenheiros testarem o funcionamento das engrenagens que movem os telescópios e as próprias cúpulas. Eles são girados de um lado para o outro e para cima e para baixo em um balé incrivelmente silencioso, principalmente tendo em conta que esses enormes equipamentos pesam centenas de toneladas. (Não estou conseguindo subir os vídeos da operação, mas assim que possível vou postá-los aqui)

Tudo certo, os engenheiros finalmente abrem as cúpulas e entregam o controle dos telescópios para os astrônomos, agrupados em uma sala em um prédio próximo. Focados nas telas de computadores, muitas vezes eles nem chegam perto dos telescópios, mantendo o que para os leigos pode parecer uma estranha distância de seus instrumentos. Mas, na astronomia moderna, cada minuto de observação conta e não há espaço para a nostalgia de épocas mais românticas. Afinal, os pedidos para usar os quatro telescópios principais do VLT e seus outros quatro auxiliares superam em cinco vezes o tempo disponível.

E começa assim a longa jornada noite adentro dos astrônomos até que, ao nascer do Sol, os engenheiros retomam o controle dos telescópios e tem início um novo dia de trabalho...

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