sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Greve paralisa operações do maior radiotelescópio do mundo no Chile

Operações científicas do Alma foram interrompidas nesta quinta-feira (22). Maior complexo astronômico via rádio da Terra foi inaugurado em março.


(France Presse/G1) As operações científicas do Alma, o maior radiotelescópio do mundo, localizado no norte do Chile, estão paralisadas por causa do início, nesta quinta-feira (22), de uma greve por tempo indeterminado de trabalhadores locais, que exigem melhores salários.

"Está tudo parado. Desde ontem à noite, as observações foram detidas, nenhum tipo de dados sai, e as antenas não estão se movendo", disse à AFP Danilo Castillo, dirigente do Sindicato do Alma.

"O maior prejuízo é que a comunidade científica internacional não pode receber nenhum tipo de dados", acrescentou Castillo.

Em comunicado, a administração do Alma explicou que preparou um plano de contingência para operar "de forma básica", com a finalidade de manter ligadas as 66 antenas que fazem parte do radiotelescópio, situado a mais de 5 mil metros de altitude, em pleno deserto do Atacama, 1.600 km ao norte da capital Santiago.

A greve começou de madrugada, cinco meses após a inauguração do observatório, uma parceria entre Europa, América do Norte, Extremo Oriente e o governo do Chile.

A construção e a operação do Alma são realizadas na parte europeia pelo Observatório Europeu do Sul (ESO), na parte americana pelo Observatório Radioastronômico Nacional (NRAO), operado pelo grupo Associated Universities Inc. (AUI), e na parte oriental pelo Observatório Astronômico Nacional do Japão.

Ao todo, são 195 trabalhadores – a maioria chilenos e todos contratados pela AUI – que iniciaram a greve. Outros 75 trabalhadores, contratados pelas outras organizações, têm melhores condições de trabalho.

"Queremos melhorias em nossas remunerações e em nossa qualidade de vida de trabalho", disse Castillo, que liderou um grupo de trabalhadores responsável por protestar no entorno dos escritórios do Alma em Santiago.

Em um dos cartazes, os trabalhadores exigiam "salários à altura" de trabalhar a mais de 5 mil metros de altitude, no deserto mais árido do mundo. O sindicato também reivindica um aumento salarial de 15% e melhoria das condições de trabalho, o que foi inicialmente rejeitado pela AUI.

"Nós tínhamos pedido 15%, mas estamos abertos a uma negociação. A intransigência é da empresa que nega o aumento", explicou Castillo.

Antes de iniciar a greve, a Direção do Trabalho do Chile tentou, sem sucesso, mediar o conflito.

Trabalho em condições extremas
Os operários se queixam também das duras condições do local de trabalho. As 66 antenas de 7 a 12 metros de diâmetro ficam no mais alto local onde já se instalou um observatório astronômico, e foi escolhido justamente pela falta de umidade.

A 3.200 metros de altitude, fica o acampamento-base, onde se concentra a maioria das operações e também ficam a residência dos trabalhadores, um ginásio e depósitos.

"São condições extremas e complicadas. Dá dor de cabeça, muita sede, é preciso caminhar devagar, não é agradável", declarou à AFP Ximena Acuña, assistente de engenharia no acampamento do Alma.

"A 5 mil (metros de altitude), suportamos sensações térmicas de -20° C e fortes ventos", disse Pedro Campana, especialista no controle de antenas.

Campana explicou que os profissionais do Alma trabalham 12 horas por dia, o máximo que permite a lei chilena, e depois descansam 6 horas, em um sistema de trabalho que esgota os funcionários devido às mudanças constantes de altitude que seus corpos precisam suportar.

"Estamos subindo e descendo durante a semana e, nesse tempo, a fisiologia fica se readaptando às diferentes condições de seca, que além do mais causa problemas para dormir", explicou Campana.
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