quarta-feira, 6 de junho de 2012

NASA recebe dois telescópios mas não tem dinheiro para os mandar para o espaço


(Público - Portugal) Os dois super telescópios são ainda mais poderosos que o Hubble, que já está em funções desde 1990 e que ameaça tornar-se obsoleto nos próximos anos. Só há um problema: com o actual orçamento, a NASA só tem dinheiro para os mandar para o espaço em 2024.

O “The Washington Post” (WP) diz que se trata de uma transferência de tecnologia bastante incomum: de uma agência governamental secreta, a National Reconnaissance Office (NRO), estes telescópios poderão passar a beneficiar a transparente Agência Espacial Norte-Americana (NASA), que opera em benefício da Humanidade.

Com o actual constrangimento orçamental vivido pela NASA e na iminência de o “velhinho” satélite Hubble se tornar obsoleto nos próximos anos, a NASA deveria estar a abrir garrafas de champanhe para festejar esta doação, escreve o mesmo jornal. Mas a realidade é outra: “Aqui nunca abrimos garrafas de champanhe; o nosso orçamento é demasiado reduzido”, respondeu prontamente àquele jornal americano o director de ciência da NASA, John Grunsfeld.

Por seu lado, o director de astrofísica da Agência Espacial Norte-Americana, Paul Hertz, confirmou que, apesar de o hardware que lhes foi doado ter “capacidades impressionantes”, a NASA não poderá fazer uso de um deles antes de 2024.

“A NASA não tem, com o actual orçamento, a liquidez necessária para desenvolver uma missão espacial que faça uso destes dois telescópios”, disse Hertz numa conferência de imprensa.

O responsável disse claramente que, tendo em conta os orçamentos esperados para os próximos anos, 2024 seria a data mais próxima a partir da qual seria possível lançar um dos dois telescópios, a menos que entretanto a agência receba verbas adicionais do Congresso. “Quaisquer datas anteriores - como 2019 ou 2020 - só serão possíveis se não houver problemas de dinheiro”, disse Hertz.

De qualquer maneira, esta é apenas a estimativa para o lançamento de um destes telescópios. O outro permanecerá irremediavelmente em terra. Ambos estão, aliás, temporariamente armazenados até que a NASA decida o que fazer com eles.

“Neste momento não antecipamos algum dia sermos ricos o suficiente para usar ambos os telescópios. Mas isso seria divertido, não seria?”, disse Paul Hertz durante a conferência de imprensa.

O valor dos telescópios - que têm um campo de visão cem vezes superior ao Hubble, de acordo com o WP - é difícil de estimar, mas alguns responsáveis da NASA indicam que este hardware doado poderá cortar cerca de 250 milhões de dólares (200 milhões de euros) de uma futura missão, bem como alguns anos de trabalho.

O anúncio desta doação levou a uma pergunta óbvia: porque é que uma agência secreta norte-americana já não quer ou não precisa de dois super telescópios?

Uma porta-voz da National Reconnaissance Office (NRO), Loretta DeSio, forneceu ao WP algumas informações: “Eles [os telescópios] já não têm a capacidade de recolher dados secretos”.

A mesma responsável confirmou igualmente que os telescópios representam um upgrade em relação à tecnologia óptima do Hubble. “O hardware é aproximadamente do mesmo tamanho do do Hubble, mas usa uma tecnologia e uma estrutura mais novas e um espelho muito mais leve”.

Loretta DeSio confirmou ainda que alguns componentes foram removidos antes da doação. Alegadamente por motivos de segurança, já que estes telescópios se dedicavam a recolher imagens e informações sensíveis. Estes aparelhos são tão secretos que nem a NASA nem a NRO puderam divulgar imagens dos dois telescópios.

DeSio acrescentou ainda que os dois aparelhos foram construídos no final da década de 1990, início dos anos 2000.

De acordo com um especialista em missões espaciais americanas, quer civis quer militares, esta doação por parte da NRO à NASA significará que estes dois telescópios poderão ser versões dos satélites KH-11 Kennan que a agência começou a mandar para órbita em 1976. O mesmo analista - que falou ao WP sob anonimato - indicou ainda que, nos últimos anos, a NRO decidiu passar a usar satélites de vigilância que têm um espectro de visão mais abrangente do que os modelos anteriores.

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