segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Óculos de telescópio










(Cesar Baima - O Globo) A turbulência da atmosfera foi durante séculos um dos maiores obstáculos dos astrônomos. É esta movimentação do ar que faz as estrelas cintilarem e impede uma observação mais nítida do céu. Graças a uma tecnologia recente, que funciona como verdadeiros "óculos para telescópios", isso já não é mais um problema. Nesta sexta-feira, 25 de novembro, o Observatório Europeu do Sul (ESO) comemora os 10 anos da instalação do primeiro sistema da chamada “ótica adaptativa” em seu principal instrumento atual, o telescópio VLT, instalado na região do Deserto do Atacama, no Chile.

Batizado NACO, o sistema aumentou enormemente a nitidez das imagens do telescópio e, assim, seu potencial de fazer descobertas científicas. Os primeiros alvos de sua operação foram os planetas e luas do Sistema Solar e as observações geraram os primeiros mapas detalhados do clima e da superfície de Titã, a maior lua de Saturno, e imagens em infravermelho dos poderosos vulcões de Io, uma das luas de Júpiter.

Com o NACO, os astrônomos do ESO obtiveram ainda em 2004 a primeira imagem direta de um planeta extrassolar. Com o sistema, o VLT também conseguiu acompanhar pela primeira vez a órbita de um planeta em torno de uma estrela que não o Sol, chamada beta Pictoris. O instrumento forneceu ainda a primeira análise do espectro de um planeta extrassolar, permitindo aos astrônomos estudar a composição de sua atmosfera.

Mas o que é considerada a maior descoberta do NACO é a comprovação de que um gigantesco buraco negro reside no centro da nossa galáxia, a Via Láctea. Foi com ele e sua capacidade de fazer observações em infravermelho que os cientistas puderam ver através das nuvens de poeira que encobrem o núcleo galáctico, medindo com precisão as órbitas de estrelas em torno deste monstro cósmico (veja o vídeo aqui).

Nos últimos 10 anos, a tecnologia de ótica adaptativa tem continuado a evoluir, com uma nova geração de instrumentos em construção ou sendo planejados que vão melhorar ainda mais as imagens obtidas por telescópios em terra. Em geral, os sistemas usam um laser para criar uma espécie de "estrela artificial" que é acompanhada em tempo real por computadores que controlam um pequeno espelho nos telescópios para compensar a turbulência da atmosfera, movimentando-o cerca de 500 vezes por segundo.

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