Astrônomos brasileiros estão divididos sobre os benefícios e os prejuízos de fazer parte do melhor telescópio do mundo
(iG) O Brasil quer se tornar membro do Observatório Europeu do Sul (ESO) e a comunidade científica está dividida. Uma parte acha que será um avanço, a outra, que será apenas uma forma de se endividar. O acordo de adesão foi assinado no ano passado pelo então ministro de Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, e ainda precisa ser aprovado no Congresso. O investimento é alto, são 256 milhões de euros (R$ 570 milhões) em dez anos que vão dar permitir que pesquisadores brasileiros observem o universo por 36 noites ao ano a partir dos equipamentos do ESO.
Um investimento desta categoria gerou uma mesa redonda na 63ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que acontece nesta semana em Goiânia. Para os que defendem que o Brasil faça tal investimento, o argumento está no fato de o equipamento atender a todos os tipos de pesquisa em astronomia e estar na vanguarda deste tipo de tecnologia.
“A grande qualidade do ESO é a larga quantidade de equipamentos ao alcance de todos os astrônomos brasileiros. O Gemini tem equipamentos em vermelho, não atende mais da metade da comunidade de astrônomos brasileiros”, disse Kepler de Oliveira, astrônomo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Hoje o Brasil tem acesso a dois telescópios, o Gemini e o Soar. O gasto é de 30 milhões de dólares (R$ 47 milhões) em 18 anos, mas atendem apenas astrônomos que trabalham com óptica de infravermelho.
O ESO está em três áreas do deserto do Atacama do Chile, é o que há de mais moderno em equipamentos astronômicos. Duas áreas trabalham com óptica de infravermelho e outra com rádioastronomia. O complexo também conta com VLT (Very Large Telescope), um conjunto de quatro telescópios com 8,2 metros de diâmetro e mais quatro auxiliares de 1,8 metro. Há ainda uma quarta área sendo construída, onde estará o maior telescópio do mundo, o E-ELT com 42 metros de diâmetro.
“O fato é que o Ministério de Ciência e Tecnologia não tem este dinheiro”, disse João Evangelista Steiner, da Universidade de São Paulo (USP). Para o professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, a astronomia brasileira corresponde a apenas 1% da ciência brasileira em relação ao número de pesquisadores e número de artigos publicados, o que faz com um investimento desta dimensão só para uma área, “algo injusto”.
Oliveira justifica que os equipamentos para astronomia são mesmo caros. “A astronomia realmente precisa de instrumentos grandes, que são caros, diferentes de outras ciências”, disse.
Steiner afirmou que um problema sério do acordo está no fato de a conta para cada um dos 15 países membros ser baseada no Produto Interno Bruto (PIB) de cada nação, embora o uso seja por competição científica. “Digamos que o Brasil tenha menos astrônomos que a Holanda, e nossos astrônomos tenham menos maturidade científica que os holandeses. Pagaremos três vezes mais que a Holanda, por causa do nosso PIB e não teremos três vezes mais resultado do que eles. Vamos subsidiar na prática a ciência européia. E subsidiar um valor altamente significativo”, disse.
Steiner acredita que o melhor seria continuar com os telescópios Gemini e Soar, que têm 20 anos e desenvolver tecnologia brasileira. Para Oliveira, um dos pontos fortes da entrar para o grupo do ESO está no fato de já no primeiro dia poder usar o melhor telescópio do mundo.
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